sexta-feira, 24 de março de 2017

Abraça-me
Abraça-me. Quero ouvir o vento que vem da tua pele, e ver o sol nascer do intenso calor dos nossos corpos. Quando me perfumo assim, em ti, nada existe a não ser este relâmpago feliz, esta maçã azul que foi colhida na palidez de todos os caminhos, e que ambos mordemos para provar o sabor que tem a carne incandescente das estrelas. Abraça-me. Veste o meu corpo de ti, para que em ti eu possa buscar o sentido dos sentidos, o sentido da vida. Procura-me com os teus antig...os braços de criança, para desamarrar em mim a eternidade, essa soma formidável de todos os momentos livres que a um e a outro pertenceram. Abraça-me. Quero morrer de ti em mim, espantado de amor. Dá-me a beber, antes, a água dos teus beijos, para que possa levá-la comigo e oferecê-la aos astros pequeninos.
Só essa água fará reconhecer o mais profundo, o mais intenso amor do universo, e eu quero que delem fiquem a saber até as estrelas mais antigas e brilhantes.
Abraça-me. Uma vez só. Uma vez mais.
Uma vez que nem sei se tu existes.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'

5 comentários:

Cidália Ferreira disse...

Adoro os poemas e prosas desse Senhor. Já conhecia este texto. Amei

Beijinhos
Bom fim de semana

Elvira Carvalho disse...

Um maravilhoso texto poético.
Um abraço e bom fim de semana

Graça Pires disse...

Sempre excelente, Joaquim Pessoa.
Um bom fim de semana.
Beijos.

Maria Rodrigues disse...

Maravilhosa escolha.
Como é bom um abraço, envio-lhe um abraço bem apertadinho.
Bom fim de semana
Maria

Arco-Íris de Frida disse...

Lindissimo poema...o amor descrito de forma brilhante... adorei...

Beijos, e um otimo fim de semana minha amiga