Poema aos homens constipados
António Lobo Antunes
Pachos na testa, terço na mão, Uma botija, chá de limão, Zaragatoas, vinho com mel, Três aspirinas, creme na pele Grito de medo, chamo a mulher. Ai Lurdes que vou morrer. Mede-me a febre, olha-me a goela, Cala os miúdos, fecha a janela, Não quero canja, nem a salada, Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada. Se tu sonhasses como me sinto, Já vejo a morte nunca te minto, Já vejo o inferno, chamas, diabos, Anjos estranhos, cornos e rabos, Vejo demónios nas suas danças Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo Ai Lurdes, Lurdes fica comigo Não é o pingo de uma torneira, Põe-me a Santinha à cabeceira, Compõe-me a colcha, Fala ao prior, Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada, Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada. Faz-me tisana e pão de ló, Não te levantes que fico só, Aqui sozinho a apodrecer, Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer
António Lobo Antunes - (Sátira aos HOMENS quando estão com gripe)
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4 comentários:
Não que é mesmo assim? :)
Tão frágeis que eles são.
Bom fim de semana.
Bj
Olinda
Excelente!
Bjs
Gosto tanto deste poema.
É que é mesmo assim, que eles se portam mal começam a espirrar.
Um abraço e bom fim de semana
Lindo, ao mesmo tempo engraçado :)
Beijo. Bom fim de semana.
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