sábado, 18 de fevereiro de 2017

Poema aos homens constipados 

António Lobo Antunes
 
Pachos na testa, terço na mão,
Uma botija, chá de limão,
Zaragatoas, vinho com mel,
Três aspirinas, creme na pele
Grito de medo, chamo a mulher.
Ai Lurdes que vou morrer.
Mede-me a febre, olha-me a goela,
Cala os miúdos, fecha a janela,
Não quero canja, nem a salada,
Ai Lurdes, Lurdes, não vales nada.
Se tu sonhasses como me sinto,
Já vejo a morte nunca te minto,
Já vejo o inferno, chamas, diabos,
Anjos estranhos, cornos e rabos,
Vejo demónios nas suas danças
Tigres sem listras, bodes sem tranças
Choros de coruja, risos de grilo
Ai Lurdes, Lurdes fica comigo
Não é o pingo de uma torneira,
Põe-me a Santinha à cabeceira,
Compõe-me a colcha,
Fala ao prior,
Pousa o Jesus no cobertor.
Chama o Doutor, passa a chamada,
Ai Lurdes, Lurdes nem dás por nada.
Faz-me tisana e pão de ló,
Não te levantes que fico só,
Aqui sozinho a apodrecer,
Ai Lurdes, Lurdes que vou morrer
 
 
António Lobo Antunes - (Sátira aos HOMENS quando estão com gripe)
 







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4 comentários:

Olinda Melo disse...


Não que é mesmo assim? :)
Tão frágeis que eles são.

Bom fim de semana.

Bj

Olinda

Elisabete disse...

Excelente!
Bjs

Elvira Carvalho disse...

Gosto tanto deste poema.
É que é mesmo assim, que eles se portam mal começam a espirrar.
Um abraço e bom fim de semana

Cidália Ferreira disse...

Lindo, ao mesmo tempo engraçado :)

Beijo. Bom fim de semana.