UMA ORAÇÃO
José Pedro Gomes continua em "coma induzido". Diz a lenda que, nesse estado, podemos comunicar com os amigos desaparecidos. E não é difícil imaginar as divertidas conversas de José Pedro com António Feio. "Tinha tantas saudades tuas, pá!"
"Eu também, mas a ti tenho-te visto. No teatro, na televisão..."
"Aqui também há televisão?"
"Não. Mas vemos tudo, lembra-te. É uma das poucas vantagens de se estar morto. Até Benfica TV temos à borla."
E José Pedro: "Porreiro. Acho que vou gostar disto."
E é aqui que António Feio finge arreliar-se e admoesta o amigo de sempre. "Estás parvo, ainda tens mais um par de peças para fazer, a Luísa Costa Gomes está a escrever-te uma em que interpretas não doze, mas 176 personagens e tudo numa hora, era para ser surpresa, o casino já tem a data reservada e tudo..."
"A sério?"
"A sério, pá, então eu ia mentir-te? Somos amigos há quanto tempo? Quantos Inoxes fizemos? E o Molero?"
"O Molero... Foi a primeira vez que passaste a encenador, salvo erro. E também actuavas."
"Mas deixei-te fazer o brilharete todo. As palmas eram quase todas para ti."
"Eu sei. Ficaste zangado?"
Aqui António Feio irrita-me mesmo. Ou finge:
"Ó meu artolas, mas quando é que eu me zanguei contigo? Fiquei feliz, sim. E orgulhoso. Por ti. Por nós. É por isso é que tens de voltar lá para baixo."
"Mas eu... Eu queria ficar aqui mais um bocadinho a falar cont..."
"OK, mas daqui a pouco andor, tá? Há gente a torcer por ti, não lhes vais fazer a desfeita."
"Uma peça em que eu faço 176 personagens, dizes?"
"Mais coisa menos coisa, sim."
"Numa hora?"
"Sim, sim. Agora vê lá se acordas.”
José Pedro Gomes continua em "coma induzido". Diz a lenda que, nesse estado, podemos comunicar com os amigos desaparecidos. E não é difícil imaginar as divertidas conversas de José Pedro com António Feio. "Tinha tantas saudades tuas, pá!"
"Eu também, mas a ti tenho-te visto. No teatro, na televisão..."
"Aqui também há televisão?"
"Não. Mas vemos tudo, lembra-te. É uma das poucas vantagens de se estar morto. Até Benfica TV temos à borla."
E José Pedro: "Porreiro. Acho que vou gostar disto."
E é aqui que António Feio finge arreliar-se e admoesta o amigo de sempre. "Estás parvo, ainda tens mais um par de peças para fazer, a Luísa Costa Gomes está a escrever-te uma em que interpretas não doze, mas 176 personagens e tudo numa hora, era para ser surpresa, o casino já tem a data reservada e tudo..."
"A sério?"
"A sério, pá, então eu ia mentir-te? Somos amigos há quanto tempo? Quantos Inoxes fizemos? E o Molero?"
"O Molero... Foi a primeira vez que passaste a encenador, salvo erro. E também actuavas."
"Mas deixei-te fazer o brilharete todo. As palmas eram quase todas para ti."
"Eu sei. Ficaste zangado?"
Aqui António Feio irrita-me mesmo. Ou finge:
"Ó meu artolas, mas quando é que eu me zanguei contigo? Fiquei feliz, sim. E orgulhoso. Por ti. Por nós. É por isso é que tens de voltar lá para baixo."
"Mas eu... Eu queria ficar aqui mais um bocadinho a falar cont..."
"OK, mas daqui a pouco andor, tá? Há gente a torcer por ti, não lhes vais fazer a desfeita."
"Uma peça em que eu faço 176 personagens, dizes?"
"Mais coisa menos coisa, sim."
"Numa hora?"
"Sim, sim. Agora vê lá se acordas.”
2 comentários:
Simplesmente fabuloso.
Oxalá ele fique bem!!
Beijinhos de boa noite.
Fiquei emocionada com este texto.
Espero que a amiga Irene esteja bem.
Bjs
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