Romance de Nós
- Estou à beira do mar,
- estou à beira de ti.
- Ardem no meu olhar
- os sonhos que não vi.
- Tudo em nós foi naufrágio,
- não quisemos saber:
- fizemos nosso adágio
- do que não pôde ser.
- Que resta do amor
- a quem é como nós?
- Envergonha-me pôr
- em verso: «somos sós;
- sós como amanhecer
- às avessas do mundo;
- sós como podem ser
- as areias no fundo;
- somos sós e sabê-lo
- é negar o pronome
- que de nós fez novelo
- e por nós se consome».
Luis Filipe Castro Mendes, in "Modos de Música"
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